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O Conhecimento Liberta

Atualizado: 28 de nov.

Por Anapuena Havena


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Quando falamos em resistência na história do Brasil, um nome se sobressai: Luiz Gonzaga Pinto da Gama.


Como historiadora, gosto da ideia de termos bons nomes nos quais podemos nos inspirar, e Luiz Gama é um brasileiro que nos enche de orgulho.


Nascido em Salvador, na Bahia, em 1830, Luiz Gama era filho de uma mulher negra livre e de pai português. Conheceu cedo o peso da injustiça: aos dez anos, foi vendido ilegalmente pelo próprio pai, que estava endividado, e levado para São Paulo, onde passou boa parte da juventude escravizado.


E então, algo mudou.


Aos 17 anos, ele descobriu o poder das letras. Aprendeu a ler e a escrever com a ajuda de um estudante de Direito e, com a habilidade recém-conquistada, passou a estudar a própria condição. Concluiu, então, que havia sido vendido ilegalmente. A partir daí, empenhou-se em provar que era livre de nascimento, pois sua mãe era negra liberta.

Luiz Gama conquistou sua liberdade por volta dos 18 anos. Posteriormente, tendo tomado gosto pelos estudos, tornou-se rábula — advogado autodidata — e passou a utilizar o conhecimento como sua principal ferramenta. Ele não apenas conquistou a própria liberdade, como libertou, por meio do Direito, mais de 500 pessoas escravizadas.


Mesmo diante de tantos desafios, Luiz Gama conquistou seu espaço: foi intelectual, rábula, jornalista, poeta e escritor respeitado, sendo reconhecido como um dos maiores abolicionistas do Brasil.


Sua história nos mostra que a resistência também se constrói com o saber. Ele usou o conhecimento como arma contra a injustiça e como instrumento de libertação.


Luiz Gama faleceu em 1882, seis anos antes da assinatura da Lei Áurea. Fico imaginando o que ele sentiria naquele 13 de maio de 1888 e sua emoção na missa campal realizada no dia 17 de maio, no Campo de São Cristóvão, em comemoração ao fim da escravidão. Como descreveu Machado de Assis:


“(...) todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto.”


Imagino uma conversa entre Luiz Gama, André Rebouças, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e a Princesa Isabel durante aquelas comemorações. Mas essa cena pertence apenas à minha imaginação, pois, à época dos acontecimentos, Luiz Gama já não estava mais neste mundo. Ainda assim, sua memória, seus esforços e suas conquistas jamais serão esquecidos. Seu nome está inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.


Luiz Gama é um verdadeiro símbolo de resistência. Uma personalidade da nossa história que todo brasileiro deveria conhecer e se orgulhar. Ele venceu o que tentaram lhe impor e provou que, quando enfrentamos a vida com coragem, sabedoria e dignidade, nenhuma circunstância é capaz de definir o nosso destino.

 

– Anapuena Havena

Historiadora| Especialista em História do Brasil

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