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Dona Leopoldina, uma mulher extraordinária

Por Anapuena Havena


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Dona Leopoldina nasceu em Viena, em 1797. Filha do imperador Francisco I da Áustria, a arquiduquesa foi esposa de d. Pedro I e primeira imperatriz do Brasil.


Recebeu uma educação primorosa na corte vienense; tinha inclinação para a botânica e mineralogia, falava diversas línguas e compreendia assuntos políticos.


Mas foi no Brasil que a jovem arquiduquesa encontrou o seu príncipe: sua mão foi dada em casamento a d. Pedro, príncipe herdeiro do trono português. E, embora tenha sido um casamento arranjado, Leopoldina apaixonou-se pelo futuro marido tão logo recebeu o retrato dele. O casamento aconteceu na Áustria, por procuração, em 1817.


O passo seguinte seria encarar a longa viagem para o Brasil. Ela teria de enfrentar o oceano bravio, e também sua insegurança diante do desconhecido. Depois de uma viagem que durou 85 dias, finalmente, Leopoldina chegou ao Rio de Janeiro, em novembro de 1817. Sua primeira impressão foi registrada em carta destinada a Maria Luisa, sua irmã mais velha:


"(...) Nem pena nem pincel podem descrever a primeira impressão que o paradisíaco Brasil causa a qualquer estrangeiro (...).”

— declaração de dona Leopoldina ao avistar o Rio de Janeiro.


As primeiras cartas escritas por d. Leopoldina em solo brasileiro demonstram seu fascínio pelo país e o intenso amor que nutriu pelo esposo. Contudo, pouco depois, suas cartas seriam marcadas por lágrimas e ressentimentos. O sonho de ter um casamento perfeito foi destruído pelo marido que ela tanto amou. Dom Pedro não escondia os inúmeros casos extraconjugais que mantinha, motivo de profundo sofrimento para d. Leopoldina.


Porém, jamais ela deve ser lembrada apenas como uma esposa frustrada. Leopoldina teve atuação grandiosa e fundamental para a independência do Brasil.


Para melhor compreensão, precisamos voltar um pouco na história:


Em 1808, o Brasil, então colônia de Portugal, passou a ser centro do governo português. Isso ocorreu quando d. João, príncipe regente, decidiu transferir sua corte para o Brasil — uma estratégia para fugir das tropas napoleônicas.


O Rio de Janeiro, capital da época, passou por rápida transformação com a instalação da corte: criação de museus, bibliotecas, faculdades, Banco do Brasil, academias, Imprensa Régia e universidades. Enfim, toda uma estrutura foi montada para que o Brasil pudesse ser o centro administrativo de Portugal.


Em 1815, ocorreu uma nova mudança: o Brasil foi elevado a reino, passando a integrar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. E, à medida que o tempo passava, d. João VI, já na condiçãao de rei, demonstrava grande afinidade por seu novo país e nenhuma intenção de voltar a Portugal.


Mas os portugueses ansiavam pelo retorno de seu rei e, em 1821, após a Revolução do Porto, d. João VI se viu obrigado a regressar, temendo perder o trono. Partiu, deixando seu filho, d. Pedro, como regente no Brasil.


A permanência de d. Pedro no Brasil causou grande descontentamentomàs Cortes Portuguesas, que exigiram também o retorno do príncipe. Dom Pedro chegou a sentir-se indeciso, mas sua esposa — d. Leopoldina — profundamente envolvida com a causa política brasileira, estava decidida a defender os interesses do país. Utilizando o pretexto da gravidez, ela reprovou a ideia de embarcar para Portugal e conseguiu persuadir o marido a permanecer no Brasil. O dia em que d. Pedro declarou que ficaria no Brasil ficou conhecido como Dia do Fico, ocorrido em 9 de janeiro de 1822.


As Cortes, contrariadas com a desobediência de D. Pedro, enviaram nova ordem exigindo o retorno imediato do príncipe. Quando as determinações de Lisboa chegaram ao Rio de Janeiro, d. Pedro encontrava-se em São Paulo e d. Leopoldina governava em seu lugar.


Foi então que, ao tomar conhecimento dessas ordens e compreender as intenções de Portugal, d. Leopoldina convocou, em 2 de setembro de 1822, uma sessão extraordinária do Conselho de Ministros. Ali, foi decidido que o Brasil deveria separar-se de Portugal. Após a reunião, Leopoldina enviou uma carta ao marido, informando-o do ocorrido e orientando-o a tornar o Brasil livre:


“O pomo está maduro; colhei-o já, senão apodrece. (...) Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer.”


D. Pedro recebeu a carta no dia 7 de setembro, às margens do riacho Ipiranga, onde proclamou a independência.


O Brasil nascia como pátria independente, e d. Leopoldina tornava-se a primeira imperatriz do país. O amarelo da nossa bandeira representa a Casa de Habsburgo, de dona Leopoldina, enquanto o verde simboliza a Casa de Bragança, de d. Pedro.


Lamentavelmente, a imperatriz pouco viu o desabrochar da Nação que ajudou a fundar. Em dezembro de 1826, o Brasil viveu profunda comoção: a morte da querida imperatriz. Todo o Rio de Janeiro chorou a morte daquela que tanto amava o povo brasileiro — a bondosa mulher que contraía dívidas para ajudar os carentes, que suportou humilhação moral acreditando defender uma causa nobre e que sonhou em construir um país livre e próspero.


Dona Leopoldina tinha apenas 29 anos quando faleceu, dias após sofrer um aborto. Estudos recentes revelaram que a causa da sua morte foi uma grave infecção, desmentindo boatos que circularam à época.


Maria Leopoldina marcou a história do Brasil como a arquiteta da independência. Uma personagem cuja vida inspira bondade, determinação, comprometimento e coragem.


A imperatriz residiu no Palácio de São Cristóvão, localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Foi ali que viveu seus melhores momentos, e também suas maiores angústias.


Curiosamente, no dia 2 de setembro de 2018, quando completavam 196 anos da sessão presidida por d. Leopoldina que culminou na independência, o palácio — sede do Museu Nacional — sofreu um grande incêndio. Naquele dia, o país perdeu importante acervo científico e também parte de sua história.



— Anapuena Havena

Historiadora e pesquisadora| Especialista em História do Brasil

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