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Dom Pedro II — O Imperador que Amava os Livros

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Dom Pedro II nasceu em 2 de dezembro de 1825, no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Filho de Dom Pedro I e da Imperatriz Leopoldina, cresceu não apenas sob o peso da coroa, mas, sobretudo, sob o peso dos livros. Registros biográficos indicam que, ainda jovem, declarava o desejo de dedicar sua vida à cultura e às ciências.


Sua infância e adolescência foram marcadas pela solidão, pelo estudo rigoroso e pela preparação para governar um país enorme e instável. Enquanto outros meninos brincavam, Pedro estudava línguas, história, filosofia e ciências naturais. Antes de ser imperador, foi, acima de tudo, um estudante permanente.



O poliglota que traduzia o mundo


Poucos soberanos se aproximaram de Dom Pedro II em erudição intelectual. Ao longo da vida, dedicou-se com paixão ao estudo das línguas.


Fontes históricas apontam que dominava diversos idiomas europeus — como francês, inglês, alemão e italiano — e dedicava-se ao estudo de línguas clássicas e orientais, como latim, grego, hebraico, árabe e sânscrito. Também demonstrava interesse pelo tupi antigo, revelando atenção às matrizes indígenas da formação cultural brasileira.


Mas o imperador não se limitava a aprender idiomas: ele os colocava em prática como tradutor. Manuscritos imperiais registram traduções feitas por Dom Pedro II de autores como Dante Alighieri, Victor Hugo, Henry Wadsworth Longfellow e Alessandro Manzoni, além de textos religiosos judaicos e cristãos, trechos de As Mil e Uma Noites, do poema épico La Araucana e do texto indiano Hitopadeśa.


Traduzir, para ele, não era apenas exercício intelectual — era uma forma de dialogar com o mundo e aproximar esse mundo do Brasil.



Bibliotecas e ciência: o palácio como centro de saber


Ao final de seu reinado, Dom Pedro II mantinha extensas bibliotecas particulares, que reuniam dezenas de milhares de volumes, aproximadamente 60 mil livros, sobre ciência, história, artes, religião, literatura e filosofia.


O Palácio de São Cristóvão funcionava como verdadeiro centro de estudos, abrigando livros, mapas, instrumentos científicos e equipamentos destinados à pesquisa.


Dom Pedro II foi também um entusiasta da fotografia e adquiriu um aparelho de daguerreótipo ainda em 1840, tornando-se um dos pioneiros da prática no Brasil.



Mecenas da inteligência brasileira

Na condução do Império, seu papel cultural foi decisivo. O imperador fortaleceu o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB); apoiou a Academia Imperial de Belas Artes; incentivou instituições musicais; financiou cientistas, artistas e intelectuais; concedeu bolsas de estudo a jovens brasileiros na Europa, muitas vezes com recursos da própria dotação imperial; apoiou pesquisas científicas e expedições naturalistas.


Dom Pedro II foi um verdadeiro mecenas. Financiava artistas e intelectuais ligados à construção da memória nacional e ajudava a moldar, por meio da arte e do ensino, a imagem de um Império voltado ao progresso.



Um imperador entre intelectuais e invenções


Dom Pedro II manteve diálogo intelectual com figuras centrais do século XIX, como Charles Darwin, Louis Pasteur, Richard Wagner, Louis Agassiz e Alexander Graham Bell.


Durante viagens ao exterior, frequentava universidades, bibliotecas, teatros e exposições científicas. Em 1876, nos Estados Unidos, conheceu o telefone apresentado por Graham Bell e levou a inovação tecnológica ao Brasil pouco tempo depois.


Victor Hugo, ao recebê-lo em Paris, teria declarado:

“Sire, vós sois um grande cidadão; sois o neto de Marco Aurélio.”

Dom Pedro II também foi admitido em diversas sociedades científicas internacionais, incluindo a Academia de Ciências da França — uma honra raramente concedida a chefes de Estado.



Poesia, pensamento e o homem por trás da coroa


Mais do que leitor, Dom Pedro II escrevia versos, mantinha diários e produzia reflexões filosóficas e espirituais. Seus cadernos revelam um temperamento introspectivo, sensível e profundamente ligado à vida intelectual.


Declarou certa vez que, se não fosse imperador, gostaria de ser professor, pois via na educação a mais nobre das missões.


Mesmo governando um país continental, Dom Pedro II escolheu viver com sobriedade. Não era afeito à ostentação nem aos excessos da corte. Preferia um bom livro a um grande banquete.



O golpe e o exílio


Em 15 de novembro de 1889, a Monarquia brasileira foi derrubada por um golpe militar. Não houve nenhuma consulta popular. A população foi surpreendida.


Dom Pedro II não ordenou resistência armada. Partiu para o exílio com dignidade.

Na Europa, viveu modestamente. Continuou lendo, escrevendo e se correspondendo com estudiosos. Morreu em Paris, em 5 de dezembro de 1891.

Pediu que um punhado de terra brasileira fosse colocado em seu caixão. Seu desejo foi atendido.


Após o exílio, seu acervo pessoal foi confiscado pelo novo regime e incorporado, de forma fragmentada, a instituições como a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional e o Arquivo Nacional.



Um legado que permanece


Dom Pedro II não foi apenas um imperador.Foi tradutor, leitor, patrono, intelectual e interlocutor de grandes mentes de seu tempo.


Ele permanece como símbolo de um Brasil que acreditava no conhecimento como projeto de nação.


Revisitá-lo é recordar que já tivemos, à frente do país, alguém que não se definia pelo poder que possuía, mas pelo saber que buscava.

E talvez essa seja sua maior herança.


— Academia Brasileira de História e Literatura — ABHL

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