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Clarice Lispector: quando o silêncio por fora esconde um mundo por dentro

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Neste 9 de dezembro, lembramos que há 48 anos o Brasil se despedia de Clarice Lispector (1920–1977), uma mulher que não apenas escreveu livros, mas mudou a forma como sentimos a língua portuguesa.


Clarice é uma daquelas autoras que provocam, ao mesmo tempo, encantamento e medo. Já escutei de muita gente:

“Tenho medo de ler Clarice. Dizem que é difícil, que não dá para entender.”


Se você já sentiu isso, tenha calma. O segredo de Clarice não é “entender” com a cabeça. É sentir. Clarice não se explica; Clarice se vivencia.  


Vamos voltar um pouco no tempo.


Imagine uma menina que nasceu na atual Ucrânia, em meio ao caos, fugindo de perseguição contra judeus, e chega ao Brasil ainda bebê. Ela cresce no Recife, com aquele "sol forte", e se declara, pelo resto da vida, pernambucana.


Para Clarice, a língua dela era o português, e ponto final.


Ela cresce, torna-se uma mulher de presença marcante — parecia até atriz de cinema —, estuda Direito, trabalha como jornalista, casa-se com um diplomata, vive na Europa e nos Estados Unidos… mas, por dentro, carregava um vulcão.


Enquanto grande parte da literatura brasileira da época (sobretudo a chamada Geração de 30) estava preocupada em mostrar a seca, a fome, a questão social — tudo isso importantíssimo —, Clarice faz o caminho inverso. Ela olha para dentro.


Costumamos situá-la na Geração de 45, a terceira fase do Modernismo brasileiro, mas, na verdade, ela ocupa um lugar muito próprio na nossa literatura.  


Nos livros de Clarice, muitas vezes “nada acontece” por fora. Ninguém mata um dragão, ninguém conquista um império. Às vezes, a história é sobre uma mulher sentada num bonde ou uma dona de casa olhando para uma barata no armário. E é justamente aí que está a mágica.


Uma das palavras-chave para entender Clarice é epifania.


Epifania é aquele momento súbito de revelação.

Sabe quando você está fazendo algo banal — lavando louça, andando de ônibus — e, de repente, uma ficha cai sobre a vida, sobre Deus, sobre a solidão? Isso é Clarice.


Ela pega o cotidiano e rasga o véu da realidade. Não é a ação externa que importa, mas o que acontece dentro da alma.  


Aqui vai uma dica da Academia Brasileira de História e Literatura para quem quer se aventurar pela obra dela:


Comece por Laços de família. São contos onde Clarice mostra que por trás da rotina familiar existem tensões, descobertas e momentos de revelação.


Depois, se quiser voltar ao início, leia Perto do coração selvagem. Foi o primeiro romance da autora, publicado quando ela ainda era muito jovem.


E, para fechar um primeiro percurso, é impossível não falar de A hora da estrela, seu último romance, publicado no ano de sua morte e que conta a história de Macabéa, uma jovem nordestina quase invisível ao mundo. Ali estão, lado a lado, a pobreza social e o olhar existencial tão próprio da autora.


Neste aniversário de sua morte, o convite da ABHL é simples: pegue um livro dela hoje. Leia nem que seja uma página. E conheça Clarice.



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